Filhos em “Flow”: Favor Não Interromper!
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(Escrevi esse texto há alguns meses, mas acho que ilustra bem o que acontece quando nós estamos ansiosos e assim interrompemos o fluxo de atividade dos nossos filhos, também conhecido como “flow”. “Flow”, segundo Mihaly Csikszentmihalyi, psicólogo húngaro, é o estado mental no qual uma pessoa se encontra quando está imersa em uma atividade, sentindo-se energizada, focada, totalmente envolvida de forma prazerosa. Vivemos em um mundo que privilegia a distração. É muito difícil manter o “flow” por mais de alguns minutos, ou segundos. Acredito que nós, adultos, não deveríamos piorar essa situação. Você já se pegou interrompendo a concentração dos seus filhos? Quando você consegue entrar em “flow”? Você já foi interrompida(o) durante um estado de “flow”? O que sentiu? Comente ao final do texto.)
Eu e minha família fomos jantar em um restaurante no sábado passado. Estava bem cheio, mas conseguimos uma mesa mesmo assim. As crianças pediram cadeirões e o garçon os trouxe. Minha filha mais velha tem 3 anos e 9 meses e o caçula tem 1 ano e 7 meses.
Pegamos o cardápio e eu li em voz alta as opções para as crianças que escolheram bifinho com macarrão na manteiga e tomatinhos. Sugeri que eles fossem brincar enquanto a comida não chegava. Minha esposa me lançou um olhar e disse em voz baixa: “salve a não diretividade”. Tá certo, eu poderia ter ficado quieto e deixado eles nos cadeirões até que a comida chegasse. Mas, como é comum, eu já pulei para o futuro e pensei que se eles ficassem no cadeirão o tempo todo, iam ter vontade de sair bem na hora da comida e aí não iriam comer e aí….
Ao invés de lidar com o aqui agora eu fiz um monte de pressuposições sobre o futuro. Isso me deixou ansioso e eu “resolvi”, de forma bem diretiva, o problema. O que eu poderia ter feito? Bom, primeiro eu deveria notar que por algum motivo eu deixei de estar no presente e viajei para o futuro. Se conseguimos notar esse movimento antes de agir, podemos escolher pausar, e não fazer isso. E, através do não-fazer, tão sabiamente experimentado nas aulas de Técnica de Alexander, eu poderia retornar ao presente e observar a situação.
A situação era: meus dois filhos estavam sentados no cadeirão, com giz de cera nas mãos, pintando em uns papéis que o garçon havia gentilmente trazido. Eu, com a melhor das intenções, interrompi essa atividade sugerindo que eles fossem brincar. Se eu estivesse centrado, observaria a situação e poderia ficar em silêncio ou então descrever o que estava acontecendo: “vocês estão colorindo o livrinho”.
O fato da minha esposa ter me alertado de uma maneira sutil e não com uma reprimenda, me ajudou a achar meu centro. Fiquei mais conectado quando a comida chegou e fiquei tranquilo enquanto eles escolhiam o que e quanto comer. Os dois comeram bem, mas não comeram tudo e quiseram descer dos cadeirões para brincar. Quando eu acabei minha refeição, fui brincar com eles e ficamos correndo, brincando de pega-pega e dando muitas risadas.
Meus aprendizados: respire e observe antes de interromper seus filhos. Note se seu desejo de interromper está partindo de uma necessidade real ou apenas de uma ansiedade. Respire, volte para o presente. Na dúvida, deixe rolar. Nunca estrague o “flow” dos seus filhos. Você faz práticas, estuda e busca esse estado de “flow” o tempo inteiro. Eles fazem isso naturalmente. Ajude-os a conservar essa capacidade.
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Muito bom Marcelo! E adorei tbm os comentários! Me identifico muito c/ todos. Tbm tenho tentado deixar o Diego, meu filho de 1 ano e 3 meses,fluindo nas brincadeiras que demonstra estar entretido. Mas hj percebo, principalmente lendo os seus textos,
que as vezes a ansiedade de ensinar a ele algo a mais, atrapalha bastante.
Marcelo, mais uma vez um ótimo texto !
Estou aprendendo a ficar conectada / no momento presente. É dificil …. quando vejo já interrompi minha filha, pedindo para fazer o que eu quero, ou preciso: trocar fralda, trocar de roupa, escovar os dentes, etc.. Sei que estas coisas são necessárias, mas quando estou conectada me sinto LEVE e estas obrigações fluem com uma facilidade tremenda ! Como diz minha terapeuta, quando deixa de ser “obrigação”, fica menos pesado.
E pode virar brincadeira,,
Acho que fugi do tema do texto..
Obrigada por comartilhar e nos ensinar com cada texto !
Você chamou a atenção para uma coisa bem interessante: a imensa capacidade das crianças de se conectarem com elas mesmas, com seus desejos e necessidades e com a capacidade criativa. A gente vai perdendo isso de forma tão profunda que, quando adultos, a maioria de nós sequer se lembra que vivia isso e como fazia. Alguns buscam essa sensação outra vez, e é preciso prática pra isso. Outros apenas vivem o cotidiano, o trabalho e as contas…
Eu ainda interrompo muito meu filho, ainda direciono muito as atividades dele. Agora bem menos. Antes de conhecer seu blog, já tinha lido alguma coisa sobre Educação Ativa e Desescolarização (primeiras luzes amarelas ao meu comportamento). Depois, veio também a Maria Montessori, muito assertiva em relação a não interferência, nem para “corrigir” as crianças. Daí comecei a refletir sobre isso e a me retirar das brincadeiras do Enzo. Sou ansiosa, de modo que ainda “escorrego” pacas. Além disso, é um processo recente por aqui, o próprio filho ainda não se acostumou totalmente com a recém-conquistada autonomia. Percebi também que causamos (eu e os demais adultos que convivem frequentemente com ele) um problema de autoestima nele em relação ao que produz sozinho. Ele adora desenhar, mas sempre pede para que a gente faça “coisas reais” para ele. Por exemplo: outro dia, vimos uma abelha. Eu peguei na mão, mostrei pra ele, contei um pouco o que era, o que fazia, do que se alimentava etc. Ele ficou conversando com a abelha por um tempo. Depois eu disse que era hora de soltá-la, ele me ajudou e decidimos ir desenhar a abelha. Quando peguei giz e papel e dei a ele, Enzo me devolveu pedindo que eu desenhasse. Neguei e perguntei por que eu e não ele. A resposta me desconcertou: “Por que Enzo não sabe desenhar, vai ficar errado”. Poxa, errado?? Doeu. A gente nunca disse isso pra ele, claro, mas como sempre desenhamos muito mais POR ele que COM ele, óbvio que ele ficou super crítico à sua produção, pois compara com a nossa… Vícios sabe de onde? Da escola… Agora estou, aos poucos, trabalhando isso com ele, não desenho mais nada e estou tentando estimulá-lo a desenhar coisas “reais” sem “ajuda” nossa. Mas ele ainda está resistente. Tudo pra dizer que a gente atrapalha um bocado não só esse estado conectado das crianças com nossa interferência,mas também a capacidade delas de aceitar as limitações e progredir a partir delas. Ainda mais quando, nosso caso, ele é a única criança da família toda. Nenhum irmão, nenhum primo, nada. O parâmetro dele somos sempre nós, adultos.
Escrevi horrores já, sorry, mas só pra completar: hoje acho que só alcanço esse nível de conexão vendo um bom filme (conta?), lendo ou cantando no chuveiro 😉
Mais uma vez, muito obrigada, Marcelo. E grata também a quem comenta por aqui. Vocês me ensinam um bocado e nem sabem!
Abs
Legal essa troca, né Natalie?
Muito boa, Laura. A gente aprende tanto quando ouve outras pessoas, né? às vezes uma pequena diferença no modo de ver de outra mãe/pai enriquece tanto nosso próprio processo… é muito bom refletirmos coletivamente não só pelo conhecimento que se troca, mas pelo acolhimento e pela conexão que a gente vai criando entre nós. adoro! 😉
Gratidão.Eu só tenho a agradecer a vocês pelos comentários que adicionam a cada vivência compartilhada neste BLOG. Vivências que têm me ajudado muito na relação com minha filha Júlia de dois anos e nove meses.
Mais um texto que eu concordo .
Pra quê cutucar a criança o tempo todo? Chamar a atenção dela o tempo todo? Acho que a criança tem que desenvolver sozinha a capacidade de distrair-se, de se concentrar em uma atividade, de ser e estar presente sem corresponder a expectativa de ninguém. É direito dela, é respeito. É possível dar atenção sem invadir o espaço, e é importante que ela aprenda isso também.
Nossa! Coitado do Caetano! É constrangedor o quanto esse menino foi interrompido nessa vida. Eu falava sem parar com o pobre! rsrsrsrs Eu vejo isso sobretudo quando assisto aos vídeos que gravava dele. Eu falava sem parar!!!! rsrsrs Faz uns meses que passamos a segurar a nossa onda e a só nos cutucarmos quando vemos ele “viajando”. Hoje apenas deixamos ele na onda dele. A Iaiá fica muito mais tempo na dela brincando. Na época do Caetano pequeninho eu acha que era ruim deixá-lo sem atenção e atenção era interação full time… Bom, mas sigo naquela linha do “antes tarde do que nunca”.
Oi Laura, eu também percebo as mesmas coisas nos videos da Luna e a mesma diferença com o Leo. É isso aí, nunca é tarde!
Tem um livro lindo que, no meu entendimento, aborda exatamente isso: se chama “A grande viagem da senhorita Prudência”. A Tati deu de presente para a Clarice e eu li lá na festa mesmo. Chorei de tão lindo e por me tocar exatamente nesse ponto. Recomendo fortemente a leitura. Se leres, depois me conta.
Abaixo a sinopse do livro:
A mãe de Prudência está chamando… a menina precisa arrumar o quarto antes de sair. Onde está a calcinha? E o short? E os sapatos? Sua mãe quer tudo organizado e está com pressa. Mas, enquanto ela despeja obrigações sobre a filha, a menina não está nem um pouco preocupada – quer mesmo é brincar. Prudência então inicia uma viagem por mundos fantásticos, com as mais incríveis criaturas, figuras e cores. Só depois de realizar seu maravilhoso passeio, que inclui até um mergulho ao fundo do oceano, ela finalmente responde à mãe: “tô indo!”. As ilustrações contemporâneas de Charlotte Gastaut – repletas de cores e formas vibrantes – completam o tom da obra.
Adoro cada vez mais ler sobre a vivência de vcs como pais, como aprendo em poucos minutos.. ontem fiz o que li em uma das vivências de vocês, deixei meu pequeno chorar, mantive o contato visual, fiquei à altura dele, mantive o contato físico de vez em quando…e esperando que ele se acalmasse, e ele estava muito muito nervoso, no meio de muita gente (primeiro pensamento que bloqueei: o que os outros estão pensado) e foi um sucesso. Ele se acalmou, e em poucos minutos, estava tudo bem. Falei uma frase, curta, positiva e em tom calmo. Im-pres-io-nan-te (mais eu do que ele)…
Tenho um filho mto sapeca de 4 anos, sou separada e divergente totalmente dos valores do pai… Estou cada vez mais imersa nos textos e citações que você faz pois quero muito poder fazer e disseminar entre as tantas amigas e pais que conheço….
Tentei procurar o livro Unconditiuonal Parental porem só tem “la fora” pra vender, infelizmente… Gostaria que você pudesse me dar uns toks de onde procurar mais fontes desssas que você cita. Achei o blog Hand in Hand e não consigo parar de ler, apesar do meu inglês estar enferrujado. Help me?
Obrigada, obrigada mesmo por compartilhar.
Angela
Oi Angela, que legal seu depoimento! Vou criar uma página com links interessantes para quem quiser se aprofundar. Um bom lugar para começar é o site da Margarita Valência que fala sobre educação ativa. Dá uma olhada: http://www.margaritavalencia.com.br
Encontrei o Unconditional Parenting em inglês para vender como livro eletrônico. Está disponível na Livraria Cultura e na Amazon.com.br. Mas, se tudo der certo vamos conseguir traduzir e publicar o livro em português.
Grande abraço,
Marcelo
Obrigada, Marcelo! Abraços!